Vi a capa desse livro em um story de uma amiga e, como boa gamer que sou (do Guitar Hero ao God of War), fiquei extremamente interessada pela leitura. Por isso, imagine a minha decepção quando, ao acabei o livro e cheguei a constatação que… eu não gostei.
Mas, antes de dizer os motivos e acabar sendo crucificada por não gostar de um livro tão bem falado por aí, vamos voltar ao início.
Amanhã, amanhã e ainda outro amanhã conta a história de Sam e Sadie, dois amigos que se conheceram quando ainda eram crianças em um hospital por situações diferentes: Sam era paciente e Sadie estava acompanhando sua irmã. Sam vivia na sala de jogos do hospital e Sadie acaba se juntando a ele lá, virando sua melhor amiga por uma paixão em comum. Com uma desavença, eles acabam se separando e nunca mais se veem. Até que, em um dia de dezembro, Sam já em seu terceiro ano de Harvard, acaba encontrando a velha amiga na plataforma do metrô e ela, que está estudando para ser designer de jogos, entrega para ele jogar o último exemplar que ela havia feito para a faculdade.
“Me prometa que nunca mais vamos fazer isso de novo. Prometa que, não importa o que aconteça, não importa que idiotice a gente faça um para o outro, nunca mais vamos passar seis anos sem nos falar. Prometa que sempre vai me perdoar, e eu prometo que sempre vou te perdoar.”
Sam joga o videogame de sua amiga e tem um estalo: ele quer fazer um jogo com Sadie Green. Junto com Sadie, e seu melhor amigo e colega de apartamente, Marx, como produtos, eles lançam seu primeiro jogo, Ichigo, que é um absoluto sucesso. E, antes mesmo de se formarem, eles já tem o mundo aos seus pés. A partir daí, acompanhamos sua trajetória no mundo da fama, com ambições, egos. sucessos, fracassos, seu amadurecimento e sua amizade, tudo isso enquanto fazem jogos.
O enredo é bom, o universo é diferente e me atrai, mas Sam e Sadie, simplesmente não me cativaram. Sam é um jovem com autoestima baixa devido a sua deficiência e os traumas que carrega, e acaba por absorver toda a fama para si quando Ichigo sai e ele se vê, pela primeira vez, como alguém que é mais que uma deficiência. Sadie é uma menina que sofre com o machismo do mundo dos games e está constantemente achando que todos estão contra elas, enquanto se submete a diversas situações que não precisaria, e se frustra por não ser reconhecida por sua arte, sem sequer comentar sobre isso com alguém. Os dois não sabem lidar com suas questões internas e acabam descontando um no outro, o tempo inteiro. Quando eles estão no início, é até de se esperar que eles façam isso, eles são jovens, mas, com o passar do livro, é apenas imaturo e cansativo.
Quem salva o livro e concede pitadas de humor e amadurecimento é Marx. O melhor amigo, produtor e um dos sócios da Jogo Sujo, o nome da empresa de jogos deles, é responsável pelos momentos de leveza e por manter a sanidade de Sam e Sadie, equilibrando egos e discussões em prol do trabalho. Não tem como não gostar de Marx. Ele é tranquilo, sempre fala sobre o que sente, e é quem cuida da parte administrativa da empresa, deixando os amigo serem os criativos.
Agora, eu consigo entender que é difícil trabalhar com outras pessoas criativas e ver outra pessoa levando o crédito por aquilo que você fez, afinal, eu também sou uma criativa. Mas, depois dos vinte e poucos anos, você descobre a magia da conversa, de resolver as coisas falando com as pessoas. Sam e Sadie vivem 30 anos sendo melhores amigos, sabendo tudo um do outro, mas, ao mesmo tempo, não sabendo nada.
Amanhã, amanhã e ainda outro amanhã tinha tudo para ser uma história linda e comovente, para ver dois amigos amadurecendo, passando por períodos de egos e desavenças, mas superando isso. E acaba por perder isso. O livro é um grande não dito. Sam nunca é capaz de dizer a Sadie que também a ama porque não tem autoestima o suficiente para isso. Sadie nunca é capaz de dizer a Sam que fica chateada por ele levar o crédito pelo jogo porque acha que ele faz de propósito. A briga que os afasta por boa parte do livro (e torna a leitura bem cansativa, na minha opinião) é por algo que Sadie nunca chega a perguntar a Sam se é verdade, e Sam nunca consegue perguntar para Sadie o que realmente aconteceu.
É aí que, para mim, o livro não faz sentido. Melhores amigos se resolvem, conversam, tentam entender o outro mesmo depois de meses. Sam e Sadie simplesmente vivem desistindo um do outro. E sim, talvez a ideia da autora tenha sido justamente te fazer pensar o quanto as palavras que não são ditas possuem o poder de acabar com uma relação. Mas, para mim, ela exagera. Não me comovi com os atores, pois não me apeguei a eles, e, apesar de gostar da temática dos jogos, faltou o relacionamento para completar. Pois, histórias são feitas de pessoas.
Apesar disso, a escrita da autora é boa e consegue te prender. Temas importantes como o machismo, deficiências físicas, preconceitos com escolhas sexuais, problema do porte de armas e mais. Também acho que o livro é sobre encontrar o seu caminho e recomeçar, mesmo quando você perde de fase, e saber quem vai estar do seu lado para te ajudar.
Amanhã, amanhã e ainda outro amanhã foi o quinto romance de Gabrielle Zevin, autora bestseller de “A Vida do Livreiro A.J. Friky” e ganhou o prêmio no Goodreads Choice de 2022 de Melhor Ficção. O livro está disponível no kindle unlimited e está em processo de adaptação para o cinema.
Editora: Rocco
Número de Páginas: 400
Estrelas: 3/5
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